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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Impressões teatrais sobre "António e Maria", Teatro da Garagem (Lisboa)

Talvez tenha sido por uma má orientação ou simplesmente por um excesso de emoção, mas confesso que António e Maria (Teatro da Garagem) me deixou aquele sabor doce-amargo que só se consegue sentir quando não há nuvens no céu. Tivemos tudo: luz, nudez, cheiro de batata, pena e sobretudo desespero. O desespero de um amor que não existe, dos sonhos que se partem, do extraordinário dentro do banal, do movimento contínuo, do círculo vicioso que não deixa de desaparecer, da porta-voz para gritar quando todas as pessoas à nossa volta são surdas, da ilha fantástica (terá sido de propósito ou apenas fruto de uma coincidência?).
Tivemos a Ana Palma, feroz e suave ao mesmo tempo e o Fernando Nobre que sentiu até ao fundo dos próprios ossos. Tivemos o pai disfarçado de mulher que, embora ridículo, traumatizou pelo seu realismo, no sentido próprio da palavra. Não se tratou de um elogio, mas de mostrar o mundo com exagero, com sarcasmo, fazer com que as pessoas sintam vontade para rir deles mesmos, um mundo em que nunca se está no começo ou no fim, sempre no meio. Morte e nascimento.
E faço a pergunta: quem sou eu? Quero ir para um mundo da fantasia, apanhar o eléctrico que vai para a Lua, mas depois reparo que a vida é um jogo em que nós criamos sonhos, sonhos criados pelos outros. Temos a cabeça dentro duma gaiola, é assim que nós pensamos, dentro duma gaiola. Às vezes conseguimos, outras vezes não.
Só te sentes real quando dói como naquela canção i hurt myself today to see if i still feel...e depois voltas para oedip. Freud ria-se de ti. E tu dizes que tens saudades do teu mundo atroz e envergonhado em que uns vivem as vidas dos outros. Tiras a roupa, quebras a alma, só para te veres na tua forma mais pura, mas nao consegues porque já não és puro. És multicorporateshit , és pingo doce e, embora saibas que a sátira é verdadeira, continuas com a tua dependência de mentira, de pronto para engolir sem pensar, sem sentir. Só para ganhares um pacote de emoções reprimidas que afinal conduzem a uma morte lenta e feia. Afinal, estás cheio de vermes por dentro que devoram todos os dias mais um centímetro da tua carne. Carne com pus. E fazes a pergunta: será que somos tão dependentes de mentiras só para termos um certo grau de protecção? Será que somos capazes de qualquer coisa para nos sentirmos aceites por um mundo em que jogamos com as regras dos outros e nunca com as nossas?
Será que não existe o amor? Diz? És cliché, aceitas a tua condição mas porquê? Catharsis...universalidade...a batata não é só a tua realidade, é a de todos nós.

Cristina Nitu, 3º ano
Português - Inglês
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus

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