A história é simples. Ou, pelo menos para mim, pretende ser.
Havia, num mundo passado, uma ilha de Mulheres.
Cada uma com a sua vida, com a cor da sua pele, dos seus olhos pintados de prata, do seu cabelo. Cada uma de um mundo diferente, de um canto de terra que cheira a solo, possuidoras de mãos pequenas ou grandes que apoiam o globo inteiro, de pernas sólidas que pisam a areia sem deixar rastos. Eram Mulheres deste tamanho, incrivelmente saudáveis, com brincos de côco nos seios.
Eu eu via-as. Sentada ao lado delas conseguia vê-las, assim, grandes como eram, deixando um intenso aroma de folha de tabaco onde se enrola amargura com açúcar.
Virgens sem serem virgens, puras mais do que a vossa senhora, desenhadas e reveladas em cores de sombra e luz, lavadas em lágrimas de água.
Elas são as Mulheres. As lindas da sopa primordial em que as realidades não se conseguiram revelar.
Gozam-nas.
Disfrutam-nas.
Sem elas, os relógios de pulso ficam sem línguas.
Cristina Nitu, 3º ano
Português - Inglês
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Quinta das Conchas
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Impressões teatrais sobre "António e Maria", Teatro da Garagem (Lisboa)
Talvez tenha sido por uma má orientação ou simplesmente por um excesso de emoção, mas confesso que António e Maria (Teatro da Garagem) me deixou aquele sabor doce-amargo que só se consegue sentir quando não há nuvens no céu. Tivemos tudo: luz, nudez, cheiro de batata, pena e sobretudo desespero. O desespero de um amor que não existe, dos sonhos que se partem, do extraordinário dentro do banal, do movimento contínuo, do círculo vicioso que não deixa de desaparecer, da porta-voz para gritar quando todas as pessoas à nossa volta são surdas, da ilha fantástica (terá sido de propósito ou apenas fruto de uma coincidência?).
Tivemos a Ana Palma, feroz e suave ao mesmo tempo e o Fernando Nobre que sentiu até ao fundo dos próprios ossos. Tivemos o pai disfarçado de mulher que, embora ridículo, traumatizou pelo seu realismo, no sentido próprio da palavra. Não se tratou de um elogio, mas de mostrar o mundo com exagero, com sarcasmo, fazer com que as pessoas sintam vontade para rir deles mesmos, um mundo em que nunca se está no começo ou no fim, sempre no meio. Morte e nascimento.
E faço a pergunta: quem sou eu? Quero ir para um mundo da fantasia, apanhar o eléctrico que vai para a Lua, mas depois reparo que a vida é um jogo em que nós criamos sonhos, sonhos criados pelos outros. Temos a cabeça dentro duma gaiola, é assim que nós pensamos, dentro duma gaiola. Às vezes conseguimos, outras vezes não.
Só te sentes real quando dói como naquela canção i hurt myself today to see if i still feel...e depois voltas para oedip. Freud ria-se de ti. E tu dizes que tens saudades do teu mundo atroz e envergonhado em que uns vivem as vidas dos outros. Tiras a roupa, quebras a alma, só para te veres na tua forma mais pura, mas nao consegues porque já não és puro. És multicorporateshit , és pingo doce e, embora saibas que a sátira é verdadeira, continuas com a tua dependência de mentira, de pronto para engolir sem pensar, sem sentir. Só para ganhares um pacote de emoções reprimidas que afinal conduzem a uma morte lenta e feia. Afinal, estás cheio de vermes por dentro que devoram todos os dias mais um centímetro da tua carne. Carne com pus. E fazes a pergunta: será que somos tão dependentes de mentiras só para termos um certo grau de protecção? Será que somos capazes de qualquer coisa para nos sentirmos aceites por um mundo em que jogamos com as regras dos outros e nunca com as nossas?
Será que não existe o amor? Diz? És cliché, aceitas a tua condição mas porquê? Catharsis...universalidade...a batata não é só a tua realidade, é a de todos nós.
Cristina Nitu, 3º ano
Português - Inglês
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus
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terça-feira, 4 de novembro de 2008
Tão perto, tão longe
O mundo parece verdadeiramente infinito. Tantos países e povos diferentes, milhões de tradições e culturas distintas, milhares de pessoas únicas… E, pouco a pouco, começamos a sentir-nos minúsculos, como grãos de areia numa praia sem cabo.
Mas, às vezes, o que está tão longe pode ficar muito perto de nós. E, assim, parece criar-se uma ligação invisível entre todos os grãos de areia da praia quando, de repente, sabemos que, por exemplo, as ilhas da Madeira e do Hawai partilham um instrumento musical muito simpático. O cavaquinho atravessou o mundo inteiro para receber o nome exótico de Ukulele, sendo hoje um dos elementos tradicionais do arquipélago do Hawai, tal como a dança hula-hula e a festa de luau.
Alguém pode imaginar que as famosas máscaras do Carnaval de Veneza têm as suas raízes no Irão, num objecto de beleza chamado burqa? As mulheres islâmicas continuam a usar esta máscara vermelha porque a sua cor brilhante contrasta com as roupas negras. Nem sempre a tradição as obriga a usar a burqa, mas atrás desta máscara esconde-se inevitavelmente uma forte identidade nacional.
E quanto ao Pão-de-ló, um bolo ao qual é muito difícil resistir. Saberá muita gente que este doce viajou por todo o mundo e chegou até ao Japão? Lá, no Extremo Oriente, ele recebeu o nome de Kasutera e tornou-se num dos bolos japoneses mais apreciados!
O mundo é imenso, ninguém pode negar! E perante esta imensidão, alegro-me por saber que podemos conhecê-lo através dos pequenos objectos e dos hábitos quotidianos que tantos povos partilham e que representam a nossa cultura global. No fim de contas, todos fazemos parte do mesmo mundo…
Texto inspirado pelo Programa Distância e Proximidade da Fundação Gulbenkian: http://www.gulbenkian.pt/index.php?section=19&artId=592.
Irina Ene, 3º ano
Inglês – Português
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus.
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quarta-feira, 4 de junho de 2008
PÃO E CIRCO - texto dramático
Personagens:
Zé “O Cubano” Sarabando – pugilista das palavras vermelhas, curriculum impressionante, culminando com o Prémio Babel (discutível)- o pomo da discórdia com o seguinte personagem- vai-se desvelando no percurso como o Autodidacta por definição, o exilado do Ilhéu do Canário na sua torre de marfim;
Toni “O Lobo”Atum – pugilista com vasta experiência na área das cargas psicológicas, perseguido pelas trevas dos ringues coloniais, benfiqueiro até a morte, o rebelde com causa, o exorcista das palavras, o moldador do silêncio.
O Árbitro-pinguim- cara apagada
A gente da feira das vaidades
Cenário : Uma sala de boxe, globos giratórios luminosos, barulhento formigueiro humano, painéis reluzentes, louruivas jeitosas de sobrançunhas pintadas, gajos de óculos pretos e de bigodes de tipo Dali, opulência, paredes cobertas com reproduções ao preço da chuva de Jackson Pollock, o retrato em branco e preto de Mohammed Ali, ao dar o knockout a um fulano branco, governando no tecto semelhante à “Criação de Adão” e por aí fora...
No ringue de pluche bordeado por fitas cor-de-rosa, estão a espernear dois homens vestidos de roupões vermelhos e azul,, respectivament, usando narizes de palhaço e luvas coloridas. Uma louruiva desviante desfila à toa nas suas sandálias-plataformas-fosforescentes e apregoa a confrontação do milénio (vozes guinchantes, desmaios, bocejos, miúdas que se pisam exaltadas, Ó mocinha isso não é uma performance de Michael Jackson, falta-te um parafuso! Eh, pá, vai ver se estou lá fora! No centro, o árbitro-pinguim fica arrepiado de medo. De repente murmura no microfone: Que começe a luta!
(histéria electrizante, caras deformadas, suor, lágrimas, que se veja vanity fair)
Zé “O Cubano”: Viva, Toni! Tudo bem?
Toni “O Lobo” (com voz de cordeiro, não de lobo): Tudo! (à parte): Raios partam os vermelhos.
Zé (falando em ar de desafio): Corre o boato que ‘tás cheio de inveja de não ter sido a Vossa Excelência galardoado com o Babel! Eh, pá, isso acontece, assim é a vida! Tens de concordar comigo que isso faz a diferença entre os melhores e os outros!
Toni (começa a irritar-se com as flechas ofensivas, mas aguenta): Achas?! Olha, a minha cena agora é outra. Os fantasmas da guerra já deixaram de me assombrar. Ainda mantenho um trunfo na manga, quer dizer, na luva. Queres ver, ó seu artola?
(Os dois afrontam-se, com os punhos levantados como se invocassem em conjunto a sua divinidade, abraçam-se ñuma tensão esmagadora, o público está em êxtase)
O Árbitro-pinguim: Senhoras e senhores, agora é o momento de fazer as apostas. Será que Zé “O Cubano” vai vencer de novo e receber o Prémio-dos-Prémios ou se calhar Toni “O Lobo” vai pagar na mesma moeda e lavar a sua honra?! Apostem e não se vão arrepender!
(A falar às pressas, precipitado, a cuspir de vez em quando, com a cara a se lhe congestionar, dum modo curioso): Mas o que é que os meus olhos ‘tão a ver?! Incrível minhas damas, meus monsieurs, mocinhas bonitíssimas, velhotas charmosas, meus putos, Ai! Espectáculo (grasna)...ai ‘tou a morrer...ai campos verdes de cor de limão, ai olhos do meu coração.
Zé: Cala-te, calhau! (dá-lhe um golpe frontal e saca-o do ringue). Que tal, caro Toni, ainda ‘tás a pensar que me podes derrotar? Essas crónicas tuas da Visão, que maçadores aparas, aqueles milhares de páginas de tolices dos teus livros gordos...Talvez queiras reescrever os Evangelhos...?!
Toni: Não me arrelio tão facilmente contigo, ó pobre inútil. Existem muitos pugilistas que são propagandistas de si mesmos! Anda lá para o teu ilhéu e prega aos peixes!
Zé: Porque é que te ofendes assim? No fim de contas, se mesmo quiser reinventar a Bíblia, já tou aqui, presto-te a minha ajuda valiosa, podes começar assim: “O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio”, mas claro, não antes de me pedir os direitos autorais. (dá uma gargalhada).
Toni: Muito original! Parabéns! O meu nome é legião. Portanto, vai à merda e leva o Babel contigo!
Zé: Vai tu duas vezes ou até mais!
Toni: Agora tou a enfurecer-me. Dou-te uma bofetada. Cais na terra cheio de raiva. (ao público).
Ladies and gentlemen, the show must go on! And the winner is...
(e, num momento de descuido, o Zé levanta-se triunfante, tira um revólver do bolso, aponta-o à cabeça do pobre convencido, aperta o gatilho... a multidão solta gritos de frenesim, o árbitro também se levanta, quer intervir para ter a certeza de que as regras são cumpridas com rigor, mas os tomates e os ovos estragados tombam para si, o Toni vira às costas à sua audiência, vê o revólver, revê toda a sua vida numa fracção de segundo, os soldados caídos à sua volta, as filhas sorridentes, os doentes)
Zé: Eh, pá, um cravo em vez da bala! Foda-se! Tamos por acaso a jogar roleta russa e eu não sabia?
Toni: Não te encolerize, (diz-lhe em voz baixa): Vamos dar ao povo o que ele tanto deseja. Espanca-me!
Zé puxa o nariz vermelho do Toni, depois solta-o, o que faz com que Toni caia.
O árbitro está a contar: dez, nove, o público que me acompanhe, oito, todos num ritmo staccato, sete, Zé está a chorar arrependido, Toni não consegue levantar-se, a guerra nunca acabou lá onde a terra se acaba e o mar começa, Zé ajoelha ao lado de Toni, o Lobo e o Cubano surpreendem a multidão atrapalhada...
Tudo pára a 1. Subitamente, ouve-se dum canto: “Why-can’t-we-be-friends-why can’t-we-be-friends-why-can’t-we...”
Todos se levantam e cantam, o árbitro coberto por contusões e sementes de tomate assume o papel de mestre de cerimónias:
Árbitro: E agora, toda a gente, mãos para cima, andem cá, Toni, Zé...vamos todos: “Why-can’t-we-be-friends-why-can’t-we-be-friends-why-can’t-we...”
Toni e Zé: Vai-te lixar, pá! (espancam-no, o público continua a cantar).
Tudo isto é fado...
Cortina
Teodora Chita, 2ºano
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segunda-feira, 12 de maio de 2008
Crónica dos Bons Malandros - Reflexão
Embora seja considerado um pouco antigo pelas gerações novas, a “Crónica dos Bons Malandros” pode representar uma óptima escolha. O filme baseia-se no livro de Mário Zambujal e estreou em 1984.
A comédia conta as aventuras duma quadrilha de ladrões que têm como objectivo principal o assalto do Museu da Fundação Gulbenkian de Lisboa. Como as jóias do Museu Gulbenkian consistem numa boa oportunidade de enriquecimento, um misterioso italiano propõe à quadrilha um assalto ao edifício.
Um detalhe importante no cenário do filme é representado pela descrição dos protagonistas - os ladrões são apresentados de uma maneira cómica, engraçada, típica para o protuguês comum. Por outro lado, o realizador, Fernando Lopes, escolheu como local da acção a capital do país, Lisboa. E, por isso, o público poderá admirar à vontade sítios de grande interesse turístico e de beleza magnífica, como por exemplo a Praça de Rossio. Nestas felizes escolhas, estou em crer que o talento dos actores sai enriquecido pelo charme inesquecível da capital portuguesa!
Acredito que este filme merece ser visto não só pelas escolhas inteligentes do realizador ao preferir uma linguagem coloquial e divertida, mas sobretudo porque a obra de Zambujal tem sido considerada pela crítica uma excelente história de suspense, capaz de envolver e apaixonar o leitor.
Embora não seja a obra-prima de Fernando Lopes ou não tenha deixado uma marca indelével no cinema contemporâneo, o filme “Crónica dos Bons Malandros” é um retrato fiel da sociedade dos ano ’80 em Portugal e só por isso já merece ser apreciado.
Lazăr Isabel
2º ano A
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quinta-feira, 1 de maio de 2008
Jeito para não ter jeito
Não sou um supermulher, nem consigo fazer a cebola chorar mas, sim, tenho uma característica em comum com Chuck Norris: tal como o dele, o meu talento escondido é invisível! Está tão escondido e invisível, que nem eu própria consegui ainda descobri-lo.
“Cantas pior que um sapato!” – são palavras que eu já ouvi demasiadas vezes, o que me faz pensar que o meu talento especial não tem nada a ver com a música. Além disso, nunca aprendi a tocar nenhum instrumento, nem sequer harmónica, ainda que o meu avô tenha tentado anos a fio despertar o meu jeito latente para aquele instrumento. Esforço em vão!
A pintura é uma outra área que deverá ser eliminada da minha lista de talentos possíveis. Nunca consegui desenhar algo concreto, e acabei sempre por pedir à minha mãe que me fizesse as pinturas para a escola. Dentro deste domínio só consegui fazer alguns desenhos abstractos, mas penso, agora, que eram demasiado excêntricos para que algum professor os compreendesse! Portanto, parece que nenhum Picasso se esconde dentro de mim…
Nem os desportos são o meu ponte forte... Sempre que tento praticar algum actividade física, só consigo pôr a minha vida e também a vida dos outros em perigo. Até uma bola inofensiva pode tornar-se numa arma mortal se vier parar às minhas mãos.
Depois de tantos anos de esforços na tentativa de descobrir o meu talento especial, talvez não tenha sido tempo lançado ao vento, afinal, se pensar bem, acho que já consegui encontrá-lo: EU TENHO JEITO PARA NÃO TER JEITO ALGUM...
Irina Ene 2° Ano
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O pintor e o mundo inteiro
Pintar uma paisagem não é uma tarefa tão fácil como as pessoas possam pensar. Só um pintor sabe que metamorfoses sofre uma tela até que chegue a ser a bonita imagem de um campo cheio de flores.
Espremer os tubos de óleo ou raspar a tinta não é condição suficiente para se obter um bonito quadro.
Um verdadeiro pintor deve ser um Júpiter que saiba como decifrar os mistérios que se escondem mesmo nas imagens que parecem simples e sem segredos, como um mar sossegado ou um campo soalheiro. Deve ser um Mercúrio que misture as cores quentes e as frias para obter a mais sublime intensidade, um Marte que intensifique os contrastes e uma Vénus que dê um demão de tinta para realçar a beleza da paisagem.
Talvez o próprio Deus tenha sido um exímio pintor porque só um grande artista poderia criar um mundo tão sublime e cheio de beleza. Diz-se que quando Ele proferiu “Haja luz!”, terá conseguido pintar o maior quadro de todos os tempos – o mundo inteiro.
Irina Ene, 2ºAno
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