O título do conto fez-me pensar num dia sossegado, passado numa esplanada que dava para o mar tranquilo e adormecido. Imaginei uma paisagem litoral com todos os elementos específicos: gaivotas preguiçosas rodando num céu petrificado, o mar amortecido com água salgada e clara, a areia ardente cheia de ostras afiadas como as âncoras dos piratas. A paisagem descrita pelo narrador é quase a mesma, mas ela é só o adorno da narração. Os personagens são os que têm o papel principal e criam a mensagem do conto.
Uma rapariga está à espera de alguém numa esplanada sobre o mar. Depois de alguns minutos, o rapaz chega, mas tem uma atitude que a surpreende. Ele está misterioso, pensativo e diz coisas estranhas. Parece ver pela primeira vez a beleza e a graça da sua namorada, dizendo-lhe : “Nunca te vi como hoje. Deve ser do sol e do mar.” Mas depois sente que não é tão influenciado pela paisagem sublime, mas por algo que se esconde dentro de si: “Deve ser dos olhos limpos com que te vejo hoje.” O rapaz fica fascinado com o mundo que se transforma continuamente em frente dos seus olhos, simplesmente, porque nunca reparou nas coisas banais que via todos os dias.
O que mudou a sua perspectiva sobre o mundo foi a notícia que recebeu: o doutor disse-lhe que ia ter só três meses de vida. Ele resigna-se em frente da morte e não se revolta contra o destino cruel que lhe rouba a mais importante fortuna do ser humano – a vida. A sua decisão não é lutar com todas as forças para poder viver alguns dias mais, mas sentir intensamente o que lhe resta da vida. O jovem sente que a morte não é o fim da sua existência porque “a vida não é verdade”, como ele diz. Ela não é verdade porque nós não sabemos aproveitá-la para estarmos felizes, porque não conseguimos entender o verdadeiro sentido do mundo. E a morte é só uma porta para um outro futuro, um universo diferente.
Os homens são cegos porque recusam ver. Há tantos milagres que acontecem ao pé de nós sem que os sintamos. A nossa própria vida é um dos maiores milagres do universo e deveríamos abrir os olhos para aprender a disfrutar das coisas simples da vida, como o nascer do sol, as ondas do mar ou o sorriso de uma pessoa amada. Tudo isto dá sentido às palavras de José Saramago, no romance “Ensaio sobre a cegueira”: “Se puder olhar, veja. Se puder ver, observe!”
Irina Ene
2° ano
Inglês - Português
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Outra Reflexão em torno de "Uma Esplanada sobre o Mar "
Publicada por
patrícia
à(s)
11:56
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