“Uma esplanada sobre o mar”...Leio, espero uns momentos e penso...O que é que se esconde por detrás destas palavras? Reparei numa: mar. Esta palavra desperta em mim uma profusão de sentimentos, mas qual será a sua relação com o texto? O impulso de ler atormenta-me. Eu vou aguentar um pouco mais!
Uma ideia contorna-se. O título deste conto faz-me pensar no Homem tão pequeno e impotente face à grandeza da natureza, do mundo, do destino. Daí poderá decorrer um certo carácter reflexivo e um certo halo de mistério. Se virmos bem, o escritor utilizou o artigo indefinido “uma”, em vez do artigo definido “a” que individualizaria o substantivo, e consequentemente a situação. Por outras palavras, o autor quer mostrar-nos subtilmente que o que vai acontecer naquela esplanada não é específico de uma determinada pessoa, o protagonista neste caso , mas um acaso que podia fazer parte da vida de qualquer uma.
Depois de me ter familiarizado com o conteúdo do texto e conseguido tirar algumas conclusões, passou-me pela mente uma reflexão enunciada por Fernando Pessoa “ Às vezes Deus usa a morte quando nos quer mostrar a importância da vida”. Se calhar esta é também a mensagem deste conto.
A morte é uma situação-limite e, até ao momento em que o Homem não se encontre numa situação destas, não percebe o valor que possui, do valor da vida, da vida como acumulação de coisas que a fazem brilhar “ o lume de um fogão”, “uma flor”, “ouvir um pássaro cantar”. Estes factos que favorecem a experiência trágica transfiguram a maneira de perceber a realidade imediata. E isso acontece também com o protagonista deste conto, o jovem condenado à morte. “Qual é a forma mais adequada para abdicar da mulher amada, da vida?” parece perguntar-nos ele.”
Uma vez instalada a perturbação na vida do personagem, surge o momento de suprema revelação. Ele apresenta-se como resignado, tendo a sabedoria dum filósofo. As suas reflexões salientam a reconciliação do Homem (de si) com o próprio destino. A rapariga com quem parece ter um diálogo podia ultrapassar o seu papel de mulher amada e transformar-se numa encarnação do mortal ignorante, recusando compreender a incerteza e a efemeridade do mundo e, especialmente, do homem.
É significativa a recorrência de vocábulos pertenecentes ao campo semântico da luz: “luz”, “lume”, “reflexão”, “sol”, verbos como “brilhar”, “iluminar”, “incendiado”, “acender” ou adjectivos como “ incandescente”. Segundo a tradição simbólica, a luz significa o espiritual, o divino e o conhecimento, por oposição à sombra e à escuridão, às trevas da ignorância. Noto que o autor podia escolher um quadro escuro para pôr em relevo a ideia da morte e de destino implacável, mas não, de facto, ele quis criar um efeito diferente, um efeito ao contrário, paradoxal. Desta maneira a morte está em plena discordância com o quadro geral, é uma fatalidade que, embora seja ignorada, é uma realidade iminente, talvez a única possível: “ é a única verdade perfeita”, como diz o jovem.
Acrescento ainda a imagem revelada no início do texto, onde todos os elementos “o mar”, “o sol”, “o céu”, “o ar límpido”, “as ondas”, “a espuma branca” se juntam para criar um quadro harmonioso e sereno. Somente “a leve neblina” e “os traços imprecisos dos barcos que passavam no limite do mar” parecem antecipar um desequilíbrio, uma situação incerta.
Concluindo, não posso fazer outra coisa que mostrar o meu assentimento perante os pensamentos existentes neste texto acerca desta “banalidade ridícula da morte” de que todas as pessoas tentam escapar, mas ninguém consegue. Porque será?? Se calhar, porque ela é a única sentença que não erra.
Alina Iacob
2º Ano
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Reflexão em torno de "Uma esplanada sobre o mar"
Publicada por
patrícia
à(s)
14:09
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