Este espaço é dedicado a todos os alunos que desejam divulgar textos, pesquisas, comentários etc em torno da língua, literatura e cultura portuguesas, apostamos, deste modo, na criatividade e autonomia dos alunos romenos que se sentirem atraídos pela alma lusófona!
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Para participar, basta enviar um documento de texto, devidamente identificado (nome e ano de estudo) para o endereço do clpic.
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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Impressões teatrais sobre "António e Maria", Teatro da Garagem (Lisboa)

Talvez tenha sido por uma má orientação ou simplesmente por um excesso de emoção, mas confesso que António e Maria (Teatro da Garagem) me deixou aquele sabor doce-amargo que só se consegue sentir quando não há nuvens no céu. Tivemos tudo: luz, nudez, cheiro de batata, pena e sobretudo desespero. O desespero de um amor que não existe, dos sonhos que se partem, do extraordinário dentro do banal, do movimento contínuo, do círculo vicioso que não deixa de desaparecer, da porta-voz para gritar quando todas as pessoas à nossa volta são surdas, da ilha fantástica (terá sido de propósito ou apenas fruto de uma coincidência?).
Tivemos a Ana Palma, feroz e suave ao mesmo tempo e o Fernando Nobre que sentiu até ao fundo dos próprios ossos. Tivemos o pai disfarçado de mulher que, embora ridículo, traumatizou pelo seu realismo, no sentido próprio da palavra. Não se tratou de um elogio, mas de mostrar o mundo com exagero, com sarcasmo, fazer com que as pessoas sintam vontade para rir deles mesmos, um mundo em que nunca se está no começo ou no fim, sempre no meio. Morte e nascimento.
E faço a pergunta: quem sou eu? Quero ir para um mundo da fantasia, apanhar o eléctrico que vai para a Lua, mas depois reparo que a vida é um jogo em que nós criamos sonhos, sonhos criados pelos outros. Temos a cabeça dentro duma gaiola, é assim que nós pensamos, dentro duma gaiola. Às vezes conseguimos, outras vezes não.
Só te sentes real quando dói como naquela canção i hurt myself today to see if i still feel...e depois voltas para oedip. Freud ria-se de ti. E tu dizes que tens saudades do teu mundo atroz e envergonhado em que uns vivem as vidas dos outros. Tiras a roupa, quebras a alma, só para te veres na tua forma mais pura, mas nao consegues porque já não és puro. És multicorporateshit , és pingo doce e, embora saibas que a sátira é verdadeira, continuas com a tua dependência de mentira, de pronto para engolir sem pensar, sem sentir. Só para ganhares um pacote de emoções reprimidas que afinal conduzem a uma morte lenta e feia. Afinal, estás cheio de vermes por dentro que devoram todos os dias mais um centímetro da tua carne. Carne com pus. E fazes a pergunta: será que somos tão dependentes de mentiras só para termos um certo grau de protecção? Será que somos capazes de qualquer coisa para nos sentirmos aceites por um mundo em que jogamos com as regras dos outros e nunca com as nossas?
Será que não existe o amor? Diz? És cliché, aceitas a tua condição mas porquê? Catharsis...universalidade...a batata não é só a tua realidade, é a de todos nós.

Cristina Nitu, 3º ano
Português - Inglês
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tão perto, tão longe

O mundo parece verdadeiramente infinito. Tantos países e povos diferentes, milhões de tradições e culturas distintas, milhares de pessoas únicas… E, pouco a pouco, começamos a sentir-nos minúsculos, como grãos de areia numa praia sem cabo.
Mas, às vezes, o que está tão longe pode ficar muito perto de nós. E, assim, parece criar-se uma ligação invisível entre todos os grãos de areia da praia quando, de repente, sabemos que, por exemplo, as ilhas da Madeira e do Hawai partilham um instrumento musical muito simpático. O cavaquinho atravessou o mundo inteiro para receber o nome exótico de Ukulele, sendo hoje um dos elementos tradicionais do arquipélago do Hawai, tal como a dança hula-hula e a festa de luau.
Alguém pode imaginar que as famosas máscaras do Carnaval de Veneza têm as suas raízes no Irão, num objecto de beleza chamado burqa? As mulheres islâmicas continuam a usar esta máscara vermelha porque a sua cor brilhante contrasta com as roupas negras. Nem sempre a tradição as obriga a usar a burqa, mas atrás desta máscara esconde-se inevitavelmente uma forte identidade nacional.
E quanto ao Pão-de-ló, um bolo ao qual é muito difícil resistir. Saberá muita gente que este doce viajou por todo o mundo e chegou até ao Japão? Lá, no Extremo Oriente, ele recebeu o nome de Kasutera e tornou-se num dos bolos japoneses mais apreciados!
O mundo é imenso, ninguém pode negar! E perante esta imensidão, alegro-me por saber que podemos conhecê-lo através dos pequenos objectos e dos hábitos quotidianos que tantos povos partilham e que representam a nossa cultura global. No fim de contas, todos fazemos parte do mesmo mundo…

Texto inspirado pelo Programa Distância e Proximidade da Fundação Gulbenkian: http://www.gulbenkian.pt/index.php?section=19&artId=592.



Irina Ene, 3º ano
Inglês – Português
Presentemente em Lisboa, com o Programa Erasmus.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

PÃO E CIRCO - texto dramático

Personagens:
Zé “O Cubano” Sarabando – pugilista das palavras vermelhas, curriculum impressionante, culminando com o Prémio Babel (discutível)- o pomo da discórdia com o seguinte personagem- vai-se desvelando no percurso como o Autodidacta por definição, o exilado do Ilhéu do Canário na sua torre de marfim;

Toni “O Lobo”Atum – pugilista com vasta experiência na área das cargas psicológicas, perseguido pelas trevas dos ringues coloniais, benfiqueiro até a morte, o rebelde com causa, o exorcista das palavras, o moldador do silêncio.
O Árbitro-pinguim- cara apagada
A gente da feira das vaidades

Cenário : Uma sala de boxe, globos giratórios luminosos, barulhento formigueiro humano, painéis reluzentes, louruivas jeitosas de sobrançunhas pintadas, gajos de óculos pretos e de bigodes de tipo Dali, opulência, paredes cobertas com reproduções ao preço da chuva de Jackson Pollock, o retrato em branco e preto de Mohammed Ali, ao dar o knockout a um fulano branco, governando no tecto semelhante à “Criação de Adão” e por aí fora...

No ringue de pluche bordeado por fitas cor-de-rosa, estão a espernear dois homens vestidos de roupões vermelhos e azul,, respectivament, usando narizes de palhaço e luvas coloridas. Uma louruiva desviante desfila à toa nas suas sandálias-plataformas-fosforescentes e apregoa a confrontação do milénio (vozes guinchantes, desmaios, bocejos, miúdas que se pisam exaltadas, Ó mocinha isso não é uma performance de Michael Jackson, falta-te um parafuso! Eh, pá, vai ver se estou lá fora! No centro, o árbitro-pinguim fica arrepiado de medo. De repente murmura no microfone: Que começe a luta!
(histéria electrizante, caras deformadas, suor, lágrimas, que se veja vanity fair)

Zé “O Cubano”: Viva, Toni! Tudo bem?
Toni “O Lobo” (com voz de cordeiro, não de lobo): Tudo! (à parte): Raios partam os vermelhos.
Zé (falando em ar de desafio): Corre o boato que ‘tás cheio de inveja de não ter sido a Vossa Excelência galardoado com o Babel! Eh, pá, isso acontece, assim é a vida! Tens de concordar comigo que isso faz a diferença entre os melhores e os outros!
Toni (começa a irritar-se com as flechas ofensivas, mas aguenta): Achas?! Olha, a minha cena agora é outra. Os fantasmas da guerra já deixaram de me assombrar. Ainda mantenho um trunfo na manga, quer dizer, na luva. Queres ver, ó seu artola?

(Os dois afrontam-se, com os punhos levantados como se invocassem em conjunto a sua divinidade, abraçam-se ñuma tensão esmagadora, o público está em êxtase)

O Árbitro-pinguim: Senhoras e senhores, agora é o momento de fazer as apostas. Será que Zé “O Cubano” vai vencer de novo e receber o Prémio-dos-Prémios ou se calhar Toni “O Lobo” vai pagar na mesma moeda e lavar a sua honra?! Apostem e não se vão arrepender!

(A falar às pressas, precipitado, a cuspir de vez em quando, com a cara a se lhe congestionar, dum modo curioso): Mas o que é que os meus olhos ‘tão a ver?! Incrível minhas damas, meus monsieurs, mocinhas bonitíssimas, velhotas charmosas, meus putos, Ai! Espectáculo (grasna)...ai ‘tou a morrer...ai campos verdes de cor de limão, ai olhos do meu coração.
Zé: Cala-te, calhau! (dá-lhe um golpe frontal e saca-o do ringue). Que tal, caro Toni, ainda ‘tás a pensar que me podes derrotar? Essas crónicas tuas da Visão, que maçadores aparas, aqueles milhares de páginas de tolices dos teus livros gordos...Talvez queiras reescrever os Evangelhos...?!
Toni: Não me arrelio tão facilmente contigo, ó pobre inútil. Existem muitos pugilistas que são propagandistas de si mesmos! Anda lá para o teu ilhéu e prega aos peixes!
Zé: Porque é que te ofendes assim? No fim de contas, se mesmo quiser reinventar a Bíblia, já tou aqui, presto-te a minha ajuda valiosa, podes começar assim: “O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio”, mas claro, não antes de me pedir os direitos autorais. (dá uma gargalhada).
Toni: Muito original! Parabéns! O meu nome é legião. Portanto, vai à merda e leva o Babel contigo!
Zé: Vai tu duas vezes ou até mais!
Toni: Agora tou a enfurecer-me. Dou-te uma bofetada. Cais na terra cheio de raiva. (ao público).

Ladies and gentlemen, the show must go on! And the winner is...
(e, num momento de descuido, o Zé levanta-se triunfante, tira um revólver do bolso, aponta-o à cabeça do pobre convencido, aperta o gatilho... a multidão solta gritos de frenesim, o árbitro também se levanta, quer intervir para ter a certeza de que as regras são cumpridas com rigor, mas os tomates e os ovos estragados tombam para si, o Toni vira às costas à sua audiência, vê o revólver, revê toda a sua vida numa fracção de segundo, os soldados caídos à sua volta, as filhas sorridentes, os doentes)

Zé: Eh, pá, um cravo em vez da bala! Foda-se! Tamos por acaso a jogar roleta russa e eu não sabia?
Toni: Não te encolerize, (diz-lhe em voz baixa): Vamos dar ao povo o que ele tanto deseja. Espanca-me!
Zé puxa o nariz vermelho do Toni, depois solta-o, o que faz com que Toni caia.
O árbitro está a contar: dez, nove, o público que me acompanhe, oito, todos num ritmo staccato, sete, Zé está a chorar arrependido, Toni não consegue levantar-se, a guerra nunca acabou lá onde a terra se acaba e o mar começa, Zé ajoelha ao lado de Toni, o Lobo e o Cubano surpreendem a multidão atrapalhada...

Tudo pára a 1. Subitamente, ouve-se dum canto: “Why-can’t-we-be-friends-why can’t-we-be-friends-why-can’t-we...”

Todos se levantam e cantam, o árbitro coberto por contusões e sementes de tomate assume o papel de mestre de cerimónias:
Árbitro: E agora, toda a gente, mãos para cima, andem cá, Toni, Zé...vamos todos: “Why-can’t-we-be-friends-why-can’t-we-be-friends-why-can’t-we...”
Toni e Zé: Vai-te lixar, pá! (espancam-no, o público continua a cantar).

Tudo isto é fado...
Cortina

Teodora Chita, 2ºano

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Crónica dos Bons Malandros - Reflexão

Embora seja considerado um pouco antigo pelas gerações novas, a “Crónica dos Bons Malandros” pode representar uma óptima escolha. O filme baseia-se no livro de Mário Zambujal e estreou em 1984.

A comédia conta as aventuras duma quadrilha de ladrões que têm como objectivo principal o assalto do Museu da Fundação Gulbenkian de Lisboa. Como as jóias do Museu Gulbenkian consistem numa boa oportunidade de enriquecimento, um misterioso italiano propõe à quadrilha um assalto ao edifício.

Um detalhe importante no cenário do filme é representado pela descrição dos protagonistas - os ladrões são apresentados de uma maneira cómica, engraçada, típica para o protuguês comum. Por outro lado, o realizador, Fernando Lopes, escolheu como local da acção a capital do país, Lisboa. E, por isso, o público poderá admirar à vontade sítios de grande interesse turístico e de beleza magnífica, como por exemplo a Praça de Rossio. Nestas felizes escolhas, estou em crer que o talento dos actores sai enriquecido pelo charme inesquecível da capital portuguesa!

Acredito que este filme merece ser visto não só pelas escolhas inteligentes do realizador ao preferir uma linguagem coloquial e divertida, mas sobretudo porque a obra de Zambujal tem sido considerada pela crítica uma excelente história de suspense, capaz de envolver e apaixonar o leitor.

Embora não seja a obra-prima de Fernando Lopes ou não tenha deixado uma marca indelével no cinema contemporâneo, o filme “Crónica dos Bons Malandros” é um retrato fiel da sociedade dos ano ’80 em Portugal e só por isso já merece ser apreciado.

Lazăr Isabel
2º ano A

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Jeito para não ter jeito

Não sou um supermulher, nem consigo fazer a cebola chorar mas, sim, tenho uma característica em comum com Chuck Norris: tal como o dele, o meu talento escondido é invisível! Está tão escondido e invisível, que nem eu própria consegui ainda descobri-lo.

“Cantas pior que um sapato!” – são palavras que eu já ouvi demasiadas vezes, o que me faz pensar que o meu talento especial não tem nada a ver com a música. Além disso, nunca aprendi a tocar nenhum instrumento, nem sequer harmónica, ainda que o meu avô tenha tentado anos a fio despertar o meu jeito latente para aquele instrumento. Esforço em vão!

A pintura é uma outra área que deverá ser eliminada da minha lista de talentos possíveis. Nunca consegui desenhar algo concreto, e acabei sempre por pedir à minha mãe que me fizesse as pinturas para a escola. Dentro deste domínio só consegui fazer alguns desenhos abstractos, mas penso, agora, que eram demasiado excêntricos para que algum professor os compreendesse! Portanto, parece que nenhum Picasso se esconde dentro de mim…

Nem os desportos são o meu ponte forte... Sempre que tento praticar algum actividade física, só consigo pôr a minha vida e também a vida dos outros em perigo. Até uma bola inofensiva pode tornar-se numa arma mortal se vier parar às minhas mãos.

Depois de tantos anos de esforços na tentativa de descobrir o meu talento especial, talvez não tenha sido tempo lançado ao vento, afinal, se pensar bem, acho que já consegui encontrá-lo: EU TENHO JEITO PARA NÃO TER JEITO ALGUM...


Irina Ene 2° Ano

O pintor e o mundo inteiro

Pintar uma paisagem não é uma tarefa tão fácil como as pessoas possam pensar. Só um pintor sabe que metamorfoses sofre uma tela até que chegue a ser a bonita imagem de um campo cheio de flores.
Espremer os tubos de óleo ou raspar a tinta não é condição suficiente para se obter um bonito quadro.
Um verdadeiro pintor deve ser um Júpiter que saiba como decifrar os mistérios que se escondem mesmo nas imagens que parecem simples e sem segredos, como um mar sossegado ou um campo soalheiro. Deve ser um Mercúrio que misture as cores quentes e as frias para obter a mais sublime intensidade, um Marte que intensifique os contrastes e uma Vénus que dê um demão de tinta para realçar a beleza da paisagem.
Talvez o próprio Deus tenha sido um exímio pintor porque só um grande artista poderia criar um mundo tão sublime e cheio de beleza. Diz-se que quando Ele proferiu “Haja luz!”, terá conseguido pintar o maior quadro de todos os tempos – o mundo inteiro.



Irina Ene, 2ºAno

quinta-feira, 17 de abril de 2008

''Crónica dos Bons Malandros", Versão Lopes

Sob a direcção de Fernando Lopes, em Outubro de 1984, estreou a comédia baseada no livro (com o mesmo título) de Mário Zambujal: ''Crónica dos Bons Malandros'', filme nem bom nem mau, mas completamente fora da linha tradicional.

O filme retrata um assalto, golpe nunca imaginado, que afinal se encontra com o imprevisto.
Num cenário colorido, vemos um grupo de marginais (Renato, João Perry; Marlene, Lia Gama; Petro Justiceiro, Nicolau Breyner e Lina Despachada, Zita Duarte) a engendrar todos os preparativos para o golpe cuja meta principal é roubar várias obras de arte do Museu Gulbenkian.
À medida que a história avança, os espectadores vão conhecendo o background de cada membro do grupo e também os diversos e atribulados caminhos que os levaram até ao ponto do golpe.

O filme surpreende pelo movimento contínuo, pela quase pobre troca de réplicas e, sobretudo, pela sobreposição de representações ''minimalistas'' dos actos das personagens. Às vezes, porém, estes momentos de exposição induzem a uma disposição demasiado futurista para o assunto apresentado.
A ''Crónica...'', de facto, impressiona pouco e a ideia de poder ser um blockbuster - está fora de questão. Mas se estiver apaixonado pela imagem dos anos 80 (para quem gostar também dos jogos de consola) talvez este filme seja uma boa opção para os revisitar!

Cristina Nitu, 2ºAno

terça-feira, 11 de março de 2008

A discriminação dos “politicamente correctos”

A discriminação existe desde a criação das classes sociais. Há vários tipos de discriminação – sexual, racial, religiosa ou social, mas escolhi falar sobre um certo tipo de discriminação – a discriminação étnica – porque nos últimos tempos tenho experienciado muitas situações em que me vi no papel de alvo da discriminação.

Por exemplo, como turista romena, podes passar por situações embaraçosas, dado que algumas pessoas te podem tratar, sem te conhecerem, com hostilidade, pura e simplesmente por causa dos preconceitos que já formaram para com os romenos, e outros povos do Leste em geral.

Acho profundamente injusto que todos os romenos sejam considerados delinquentes por causa de alguns indivíduos que não reispeitam as regras fundamentais de convivência numa sociedade. E o que é mais triste é o facto de, para muitos, o termo de “rrom” ser sempre sinónimo de “marginal” e “delinquente”.

Um exemplo de discriminação que me deixou muito surpreendida, e quase chocada, encontrei-o num dicionário explicativo de francês, em que, junto da definição da palavra “romeno” aparece uma imagem de ciganos vestidos com costumes populares específicos da Roménia. O que quer isto significar? Que os estrangeiros não fazem a diferença entre cigano e romeno?

Este exemplo pode mostrar que muitas ideias preconcebidas provêm, na maioria das vezes, de uma falta de educação ou mesmo de uma certa ignorância. Porque é sempre mais fácil acusar ou ignorar algum facto ou alguma coisa do que tentar entendê-lo.

Por outro lado, admito que também eu possa ter ideias preconcebidas injustificáveis (e é por isso que não posso condenar os outros) quando se fala de certos tipos de pessoas. Eu própria sei que nao devia generalizar, mas, ao mesmo tempo, é difícil ser tolerante quando um povo inteiro é mal julgado por causa de uma minoria - e não me refiro à minoria cigana, mas à minoria de delinquentes, pessoas que não respeitam os outros e ferem as liberdades alheias.

Contudo, hoje em dia, as pessoas começaram a deixar de lado muitos preconceitos, a entender que há excepções, ou pelo menos tentam ser mais tolerantes, e uma boa prova disso é a campanha contra a discriminação étnica na Roménia – “A Discriminação aprende-se em casa”.
Crescer e viver é também aprender a viver com o outro em harmonia e respeito pela diferença.

Ruxandra Parjoleanu
2º Ano

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Começar e não Descansar (de Saramago)

"Antes eu dizia: 'Escrevo porque não quero morrer' Mas agora mudei.
Escrevo para compreender o que é um ser humano." (José Saramago)

Disseram-se e escreveram-se tantas coisas sobre Saramago, elogiaram-no e colocaram-no num pedestal ou rejeitaram-no; ele próprio deu à luz a um amontoado de controvérsias e, ao mesmo tempo, surpreendeu tanto os seus leitores, como os críticos com a sua prolificidade e perseverença em manter a sua integridade artística.

No início, o que me levou a lê-lo foi esse misto de polémica, renome e ar pós-modernista (rótulo embora recusado pelo artista). Logo que abri “Ensaio sobre a Cegueira”, começando com os primeiros parágrafos, fiquei enfeitiçada e soube nesse instante que Saramago seria um dos meus escritores preferidos.

A crise de identidade, a multiplicidade de eu’s, o amor, a sociedade, o mundo, o ser humano vistos por uma lupa oscilante que ora aumenta ora minimiza, por uma maneira (tão diferente da anterior pecularidade artística portuguesa) de decompor e divulgar (aparentemente) a complexidade psíquica e espiritual das suas personagens…tudo isto me enche com uma nova experiência literária, um desafio total ao qual não posso resistir…

A desconstrução da identidade, as relações inter-humanas desnaturadas, supérfluas, os contextos históricos bem marcados, tudo isto faz com que as suas escritas se tornem um espelho onde me posso mirar, interrogar, reflectir sobre o meu papel no mundo, aprender a lidar com as inquietações identitárias, com a realidade contundente.

Por outro lado, o protesto saramaguiano, às vezes subtil através da ironia, do paradoxo, mas predominantemente óbvio (através, por exemplo, da escassez de sinais de pontuação como uma reaccão à suposta perfeição do mundo), emergiu vigorosamente na minha visão de leitor como mais um estímulo para meditar sobre o facto de vivermos, sem dúvida, num mundo em que pouco ou nada são rosas, em que, como o próprio escritor confessou, “perdemos o sentido do protesto, o sentido crítico, parece que vivemos no melhor dos mundos possíveis”.

No que concerne a “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, este romance influenciou significativamente a minha visão sobre a alteridade e a individualidade, a humanidade e as suas crises, os traumas do passado e os do presente, a passividade e o dinamismo e as contrariedades esmagadoras que nos rodeiam. Embora há quem diga que se trata só de uma ficção sobre a ficção, de uma tirada ilusória, no meu entender, Saramago desvenda aos olhos (de quem quer verdadeiramente ver) a realidade projectada na ficcionalidade, sem “enfeitinhos” redundantes, porém conservando a mensagem de que devemos, de uma forma ou outra, agir, pensar, não ensimesmar, mas exibir as forças dos nosso “múltiplos eu’s” capazes de mudar efectivamente o mundo, pelo menos aquele que nos rodeia.

Perguntei-me várias vezes quem aproveita mais das escritas de Saramago: talvez seja ele mesmo – por conseguir, através dos seus romances, acercar-se do conhecimento em profundidade do ser humano, ou eu, o leitor – por beneficiar da oportunidade de ampliar a minha perspectiva e consciência sobre o mundo em que vivo, sobre as mudanças que ocorrem por dentro e por fora de mim…

Teodora Chiţă, 2º Ano

“HOMERO” – ou O Baptismo das Coisas

"Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da
presença das coisas”.
( Sophia de Mello Breyner Andresen )


Por que razão escolhi ler e comentar o conto “Homero”?...Fiz esta pergunta a mim mesma várias vezes...foi uma escolha fortuita? Não sei bem...talvez me tenha atraído o facto de a palavra do título não aparecer no corpo texto.... Era mesmo intrigante, porque havia só um nome próprio e aquilo, conforme o dicionário, designava a concha dum molusco. E seguiram-se outros raios de curiosidade, o nome da autora, a narração iniciada dum ângulo pessoal, o fascínio ganho em cada palavra esquisita que podia envolver um símbolo escondido, o universo apenas esboçado.

Agora, depois da leitura, as correlações começam a surgir: parece que todas as coisas têm um nome com duplo sentido: o da superfície e o do fundo. Enquanto movimento - ele vem do avesso, do fundo para a superfície, como se Sophia quisesse purificar a palavra, de dentro para fora. Sabe-se quem foi Homero, mas teia enreda-se em volta de Búzio, deixando a impressão de que o primeiro representa somente uma estratégia para engodar o leitor contemplativo.

A presença do poeta grego influenciou profundamente a obra da Sophia, faz-se sentir a sua presença a todo o passo e em todo o seu percurso literário. Repare-se naquela balança metafórica, (embora expressa explicitamente na descrição física do Búzio através do qualificativo “baloiçado”), na qual a narradora coloca os dois vultos - num prato o homem da ficcionalidade, no outro o da realidade. E quem é quem? Substituam-se alternativamente, no fundo, brincam, surpreendem. Delete. Aquilo não devia estar escrito. Para quê tantos jogos de palavras, onde haverá ligações? Trata-se simplesmente de um mendigo (que não mendiga) bucólico e de sensações transmitidas pelo mar a um velho e, se calhar, a uma menina muito impressionada com a aparição do segundo. Delete mais uma vez!

Na verdade, Homero é a sombra do Búzio, uma parte integrante dele, porventura o ânimo, a lenda projectada na realidade. Pois, de dentro para fora, a imagem mítica insere-se na figura do homem simples, emprestando-lhe a sua aura fictícia. Através dos olhos da menina, percebemos o vulto hiperbolizado do Búzio e a inserção do seu carácter irreal nos arredores da praia. As imagens visuais predominam a fim de pormenorizar o impacto da emergência do protagonista sobre o universo artístico, assim como sobre o receptor intra e extratextual ( a menina, o leitor, respectivamente).

Podemos considerar o Búzio a interface da realidade, desde que a sua caracterização equivalha à coisificação de Homero. O segundo é evocado através do primeiro: as suas aparências físicas remetem ao poeta grego: “A sua barba branca e ondulada”, “ os seus olhos [...] ora eram azuis, ora conzentos”, “na mão esquerda trazia um grande pau”, “O Búzio chegava de dia, rodeado de luz e de vento”. Ao contrário, a sua atitude remete à impressão do aparecimento dum menestrel medieval ou de um Orpheu que canta e encanta; não pede nada, mas oferece tudo, recebendo só “bocados secos de pão e tostões”.

O Búzio é representado, num certo momento, em contraste com os pedintes comuns retratados na decadência, nem sequer comovente, mas repulsiva, enquanto ele, impressionante e digno, “alto e direito”, “não tinha nenhuma ferida”, pertencente à natureza, tem um efeito completamente diferente sobre os outros.

A narradora enquadra esta personagem na natureza: “A terra era a sua mãe e sua mulher”, estabelecendo uma relação mais do que íntima, uma correspondência animista: Búzio empresta dela as feições “ a sua barba [...] era igual a uma onda de espuma”, “os seus olhos, como o próprio mar”, “julgava-se que fosse uma árvore ou um penedo”, o ritmo, paradoxalmente, quase estagnante, arcaico é definido pelo advérbio reiterado “demoradamente” e pelo baloiço do seu corpo, dos seus gestos “desprendia o saco do pau, desatava os cordões, abria o saco [...]”. Ademais, esta incorporação, esta fusão justifica-se explicitamente no texto: “Nele parecia abolida a barreia que separa o homem da natureza”. Iria ainda longe e diria que esta “barreia abolida” podia simbolizar aquela entre a ficcionalidade e a realidade, entre a sombra persistente subtilmente de Homero e o vulto do Búzio.

No meu entender, a imagem do Búzio constrói-se no percurso textual, adquirindo sempre novas significaçöes, como se nele existisse uma dicotomia, uma sobreposição de Homero/ poeta/ ficção/ mito/ essência aplicada ao Búzio/ mendigo/ veracidade/ aparência. O resultado deslumbra: todas as forças naturais concorrem para o retrato: “O sol pousava nas suas mãos, o sol pousava na sua cara e nos seus ombros”, como se quisesse anunciar um momento culminante.

O Búzio – como as conchas encontradas tanto no mar, como na terra – é habitante de dois mundos ( o lendário e o real-no sentido intratextual), é o sábio acompanhado pelos seus objectos mágicos e simbólicos: as conchas, o pau, o saco, o cão, o feiticeiro que perpetuará os mitos na realidade. Este próprio feiticeiro adquire uma índole esquisita: conversa com a natureza, nomeia as coisas num diálogo imperceptível, delirante “que parecia recortar e desenhar todas as coisas”. Desencadeia-se, “falava com o mar” junto com as forças da natureza “uma levíssima névoa subia do mar”, “o vento rápido”, o sol.

Para além disso, ele está num processo de criação, forja palavras, enfeitiça-as, canta-as, molda-as, tem um poder divino como se fosse o próprio Criador dizendo: “Primeiro foi a Palavra”. O Búzio é o Poeta que anima toda as coisas através das palavras “quase visíveis,[..], brilhantes”, que as isenta de todas as impurezas, conferindo-lhes a essência: “vento, frescura de águas, oiro do sol, silêncio e brilho das estrelas”.

Escolhi comentar este texto e não me arrependi em nenhum momento! Esta escrita cheia e que cheira a poesia, a simplidade tão complexa ( se me é permitido) da vida, do mundo, a regresso subtil às coisas fundamentais...tudo me atraiu na teia do universo artístico criado por Sophia.

Teodora–Elena Chiţă
2º Ano

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Outra Reflexão em torno de "Uma Esplanada sobre o Mar "

O título do conto fez-me pensar num dia sossegado, passado numa esplanada que dava para o mar tranquilo e adormecido. Imaginei uma paisagem litoral com todos os elementos específicos: gaivotas preguiçosas rodando num céu petrificado, o mar amortecido com água salgada e clara, a areia ardente cheia de ostras afiadas como as âncoras dos piratas. A paisagem descrita pelo narrador é quase a mesma, mas ela é só o adorno da narração. Os personagens são os que têm o papel principal e criam a mensagem do conto.
Uma rapariga está à espera de alguém numa esplanada sobre o mar. Depois de alguns minutos, o rapaz chega, mas tem uma atitude que a surpreende. Ele está misterioso, pensativo e diz coisas estranhas. Parece ver pela primeira vez a beleza e a graça da sua namorada, dizendo-lhe : “Nunca te vi como hoje. Deve ser do sol e do mar.” Mas depois sente que não é tão influenciado pela paisagem sublime, mas por algo que se esconde dentro de si: “Deve ser dos olhos limpos com que te vejo hoje.” O rapaz fica fascinado com o mundo que se transforma continuamente em frente dos seus olhos, simplesmente, porque nunca reparou nas coisas banais que via todos os dias.
O que mudou a sua perspectiva sobre o mundo foi a notícia que recebeu: o doutor disse-lhe que ia ter só três meses de vida. Ele resigna-se em frente da morte e não se revolta contra o destino cruel que lhe rouba a mais importante fortuna do ser humano – a vida. A sua decisão não é lutar com todas as forças para poder viver alguns dias mais, mas sentir intensamente o que lhe resta da vida. O jovem sente que a morte não é o fim da sua existência porque “a vida não é verdade”, como ele diz. Ela não é verdade porque nós não sabemos aproveitá-la para estarmos felizes, porque não conseguimos entender o verdadeiro sentido do mundo. E a morte é só uma porta para um outro futuro, um universo diferente.
Os homens são cegos porque recusam ver. Há tantos milagres que acontecem ao pé de nós sem que os sintamos. A nossa própria vida é um dos maiores milagres do universo e deveríamos abrir os olhos para aprender a disfrutar das coisas simples da vida, como o nascer do sol, as ondas do mar ou o sorriso de uma pessoa amada. Tudo isto dá sentido às palavras de José Saramago, no romance “Ensaio sobre a cegueira”: “Se puder olhar, veja. Se puder ver, observe!”

Irina Ene
2° ano
Inglês - Português

Sonhos para toda a vida!

Pensei que tinha perdido muitos anos da vida sem saber o que queria realmente fazer com o meu futuro. Quando era criança, sonhava ser viajante para poder ver todo o mundo e para conhecer todos os países que alguma vez existiram.
Depois quis ser hóspede e fazer tudo o que os hóspedes faziam: visitar toda a gente, comer bolos e passar o tempo nas casas dos outros, sem ter de arrumar o meu próprio quarto!! Um outro sonho que tive era ser aposentada como o meu avô e estar de papo para o ar durante todo o tempo, aliás como eu pensava que ele tinha feito todo a sua vida.
Depois comecei a ter sonhos mais “realistas”! Quis ser bisturi para operar as pessoas e para as curar das doenças. Também teria gostado de ser bailarina, mas a minha mãe nunca pensou em ajudar-me nesse sentido e não tive a oportunidade de estudar ballet. Mas hoje acho que posso dizer a mesma coisa que Miguel Sousa Tavares escreveu numa das suas novelas: “Bailarina fui, mas nunca bailei.” Só bailei nos sonhos e talvez isso seja sufuciente para poder ser bailarina....

Embora infantis e ingénuas, estas fantasias mostraram-me uma coisa: a vida não tem sentido sem sonhos. Agora sei que os anos não são perdidos quando temos o poder de sonhar. E como é bom estar vivo quando temos uma razão para viver!!

Irina Ene
2° ano
Inglês - Português

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Reflexão em torno de "Uma esplanada sobre o mar"

“Uma esplanada sobre o mar”...Leio, espero uns momentos e penso...O que é que se esconde por detrás destas palavras? Reparei numa: mar. Esta palavra desperta em mim uma profusão de sentimentos, mas qual será a sua relação com o texto? O impulso de ler atormenta-me. Eu vou aguentar um pouco mais!

Uma ideia contorna-se. O título deste conto faz-me pensar no Homem tão pequeno e impotente face à grandeza da natureza, do mundo, do destino. Daí poderá decorrer um certo carácter reflexivo e um certo halo de mistério. Se virmos bem, o escritor utilizou o artigo indefinido “uma”, em vez do artigo definido “a” que individualizaria o substantivo, e consequentemente a situação. Por outras palavras, o autor quer mostrar-nos subtilmente que o que vai acontecer naquela esplanada não é específico de uma determinada pessoa, o protagonista neste caso , mas um acaso que podia fazer parte da vida de qualquer uma.

Depois de me ter familiarizado com o conteúdo do texto e conseguido tirar algumas conclusões, passou-me pela mente uma reflexão enunciada por Fernando Pessoa “ Às vezes Deus usa a morte quando nos quer mostrar a importância da vida”. Se calhar esta é também a mensagem deste conto.

A morte é uma situação-limite e, até ao momento em que o Homem não se encontre numa situação destas, não percebe o valor que possui, do valor da vida, da vida como acumulação de coisas que a fazem brilhar “ o lume de um fogão”, “uma flor”, “ouvir um pássaro cantar”. Estes factos que favorecem a experiência trágica transfiguram a maneira de perceber a realidade imediata. E isso acontece também com o protagonista deste conto, o jovem condenado à morte. “Qual é a forma mais adequada para abdicar da mulher amada, da vida?” parece perguntar-nos ele.”

Uma vez instalada a perturbação na vida do personagem, surge o momento de suprema revelação. Ele apresenta-se como resignado, tendo a sabedoria dum filósofo. As suas reflexões salientam a reconciliação do Homem (de si) com o próprio destino. A rapariga com quem parece ter um diálogo podia ultrapassar o seu papel de mulher amada e transformar-se numa encarnação do mortal ignorante, recusando compreender a incerteza e a efemeridade do mundo e, especialmente, do homem.

É significativa a recorrência de vocábulos pertenecentes ao campo semântico da luz: “luz”, “lume”, “reflexão”, “sol”, verbos como “brilhar”, “iluminar”, “incendiado”, “acender” ou adjectivos como “ incandescente”. Segundo a tradição simbólica, a luz significa o espiritual, o divino e o conhecimento, por oposição à sombra e à escuridão, às trevas da ignorância. Noto que o autor podia escolher um quadro escuro para pôr em relevo a ideia da morte e de destino implacável, mas não, de facto, ele quis criar um efeito diferente, um efeito ao contrário, paradoxal. Desta maneira a morte está em plena discordância com o quadro geral, é uma fatalidade que, embora seja ignorada, é uma realidade iminente, talvez a única possível: “ é a única verdade perfeita”, como diz o jovem.

Acrescento ainda a imagem revelada no início do texto, onde todos os elementos “o mar”, “o sol”, “o céu”, “o ar límpido”, “as ondas”, “a espuma branca” se juntam para criar um quadro harmonioso e sereno. Somente “a leve neblina” e “os traços imprecisos dos barcos que passavam no limite do mar” parecem antecipar um desequilíbrio, uma situação incerta.

Concluindo, não posso fazer outra coisa que mostrar o meu assentimento perante os pensamentos existentes neste texto acerca desta “banalidade ridícula da morte” de que todas as pessoas tentam escapar, mas ninguém consegue. Porque será?? Se calhar, porque ela é a única sentença que não erra.

Alina Iacob
2º Ano

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Como se lê um sorriso? Breve reflexão.

Sempre acreditei que sorrir é um dos actos mais sensíveis e mais próprios da natureza humana.
O sorriso é algo íntimo que mostra delicadamente a intenção ou o pensamento da pessoa que sorri. Traduz um estado de alma e é também um convite a entrar no foro interior de alguém. É como uma porta que nos permite explorar um mundo misterioso e cheio de contradições, o mundo dos sentimentos.
Um sorriso doce e afectuoso pode afastar o descontentamento e a mágoa, enquanto um sorriso frio, cheio de maldade e inveja pode causar uma profunda angústia.
Sorrir é, antes de tudo, exprimir uma parte de nós. Se quisermos desvendar pensamentos mesquinhos, revelamos um sorriso sarcástico e duro, mas se, pelo contrário, sentimos o desejo de partilhar e estabelecer uma relação de amizade ou apenas de cumplicidade um sorriso espontâneo e transparente é o mais adequado para mostrar.
O sorriso não é complexo somente do ponto de vista emocional, mas também anatómico porque, reparem, são necessários 23 músculos para se obter um sorriso verdadeiro!
Os três principais tipos de sorriso, segundo Lambert são: o sorriso simples, com os lábios fechados e para cima nos cantos, que é quando a pessoa sorri para si mesma, o sorriso para cima, com os lábios abertos para cima nos cantos, usado geralmente quando sorrimos para outra pessoa, e o sorriso largo, com os lábios para cima e com os dentes claramente à mostra, usado quando nos estamos a divertir!
O sentido místico do sorriso foi muito bem saliendado por Antoine de Saint Exupéry: "No momento em que sorrimos para alguém, descobrimo-lo como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele". Portanto, um sorriso é uma mensagem mágica da alma que irrompe como uma força que não é fácil ser derrotada e que resulta, dir-se-á quase magicamente e sem esforço, na mudança de um estado de espírito, de um dia menos agradável, ou até, porque não, de uma vida!


Alina Iacob
2º AnoPortuguês-Alemão